sábado, 28 de fevereiro de 2015

Meu Caro Ângelo

Hoje, 28 de fevereiro de 1856, Ângelo morreu. Meu mais caro amigo está morto... E eu não pude estar em seus últimos momentos


Ângelo, meu pobre Ângelo, sofria de melancolia, mal esse que frequentemente dava-lhe ímpetos suicidas. Eu estava ciente disso. Sempre tentei mostrá-lo o lado bom da vida, afastá-lo desses malditos pensamentos... Mostrá-lo a luz do sol e da amizade que eu lhe oferecia. Eu o amava profundamente, mas aparentemente não era suficiente.

... Não pude fazer nada por ele.

Até agora pergunto-me o que ele entendia por suicídio. Era muito egoísta da minha parte querer que vivesse comigo, compartilhasse daquilo chamado felicidade? Pois entenda, meu amigo: a morte é certamente muito mais egoísta. A morte é a resolução dos seus problemas a custo da dor dos que te amam. A morte é o esquecimento. Suicídio é violentamente arrancar um pedaço do coração dos outros. Suicidar-se é tirar a chance dos seus amigos te ajudarem e, te ajudar é, com certeza, aquilo que eles mais querem.

Quão grande você acha que foi sua dor? E quanto da sua dor você acha que foi sentida pelos seus amigos? Sua melancolia, meu caro, era por nós compartilhada. Víamos a escuridão através dos seus olhos vagos e essa escuridão olhava dentro de nossas almas e nos intimidava. Sorríamos para te trazer alguma luz, mesmo a custo da nossa própria ou mesmo submersos pelos nossos próprios problemas. Oferecíamos felizes a nossa felicidade para você. Você, por acaso, nunca notou? Que daríamos os nossos braços para que não tivesse que cortar os seus, sem cobrar nada mais que o seu bem?

A faca do suicídio esfaqueia seus amigos antes de te perfurar, meu amigo. A ferida da sua morte por tão egoísta maneira sangrará eternamente, porque não fomos capazes de cuidar de você. Lembraremos para sempre a sua morte, mas também... Saberemos que, no último instante, não foi nosso amigo, pois não cuidou de nós. Nenhum amigo sacrificaria o outro pelo próprio bem, mas ainda assim sacrificou a todos nós por um alívio tão efêmero. Se mesmo diante de tanta devoção, seu coração continuou fechado, escondido de nós, choraremos também a nossa amizade e nossos esforços, pois eles foram incompletos em alguma das partes. Choraremos pois, apesar de tudo, te amamos, porém, findas as lágrimas, seguiremos em frente, pois morte é também esquecimento.



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