Há tanto tempo encaro esse
abismo aqui deitado, que sinto que esqueci como andar. Os meses turbulentos da
minha vida já passaram, mas meu interior continua inquieto. Incontáveis dúvidas
e intermináveis mágoas abertas borbulham dentro do meu peito. Eu não consigo
esquecer, não consigo avançar. Não consigo mais sair daqui ou tomar um rumo
qualquer que seja, mas apenas andar desnorteado. Deitado nessa beirada, eu
sinto meus membros pesados e dormentes, servidos de uma indolência sem tamanho.
Estou drogado, anestesiado pelas minhas angústias e contando os segundos que
passam, um por um, para matar o infinito tempo que parece me restar.