domingo, 22 de janeiro de 2017

Fratura

Sem querer causar alarde, tampouco acreditando que realmente isso possa acontecer, devo registrar novamente que escrever está se tornando difícil. Não entendo exatamente o que aconteceu, mas, por outro lado... Tem sido mais fácil respirar. Estou sentindo menos, importando-me menos, vivendo menos sufocado por coisas do passado. É uma situação curiosa, na verdade. É como um cavalo com os olhos bloqueados sendo guiado. Ele veste a venda, que nesse caso se chama tapa, para que não se assuste com seus arredores e ser, portanto, mais indiferente. Ele não sabe por onde anda, os caminhos pelos quais passa ou qualquer coisa que se desenrole ao seu lado. É como ocorre comigo. Temos, entretanto, um ponto no qual diferimos minha visão não é escura, mas sim branca. Andando por ai, as imagens se projetam nos meus olhos mas rapidamente borram todas as suas cores e se misturam, formando uma enorme mancha branca. Não estou vendado, ou melhor, a venda não está em meus olhos, mas sim intrínseca a mim. No cerne disso, mora o fato de que as coisas perderam o significado. Tudo é inútil, misturado, líquido, useless. As linhas que delimitam os objetos são irrelevantes, pois eles, o ambiente exterior, não possui mais distinção. Tanto faz a árvore ou o carro, o chão ou a casa, o livro ou a mesa. Não tem diferença. As coisas não carregam mais valor. É uma imensa aquarela de luzes, em que eu sou o pincel borrando tudo. Nisso, nada mais interessa individualmente e apenas um contorno se conserva: o meu, para que eu possa pintar, vez ou outra, os objetivos triviais da minha vida trivial.

.... Sede. Acho que vou...